Sunday, May 27, 2007

20 anos




Há exactamente 20 anos o FC Porto conquistava a sua primeira competição internacional: a Taça dos Clubes Campeões Europeus. Há exactamente 20 anos tornei-me adepto do FC Porto.
Infelizmente são poucas as minhas recordações desse momento histórico. Tinha apenas 5 anos e, segundo palavras da minha mãe, eu passei grande parte do tempo a chorar, assustado pela gritaria e loucura da minha família, que se tinha juntado em minha casa para ver o jogo. Dessa noite recordo os tachos que tocavam em uníssono, os meus tios que batiam nas portas feitos selvagens...e o João Pinto a correr com a taça nas mãos. Mais nada. Mas sei que foi aí que tudo começou.
Da Supertaça Europeia não sobram memórias, da Taça Intercontinental apenas alguns flashes (entre os quais se conta o golaço do Madjer). Mas foi em Viena que tudo começou.
Aqueles lunáticos que partilham laços de sangue comigo e que passaram o resto dessa noite a berrar e a bater com tudo o que tinham à mão em tudo o que era sítio pegaram-me o bichinho azul e branco. O FC Porto fez o resto.
Desde cedo me apercebi que aquele clube era especial. As vitórias eram conseguidas com sangue, suor e lágrimas. Os jogadores lutavam, corriam, morriam em campo pelo emblema que envergavam ao peito. A equipa era unida nas vitórias e nas derrotas.
Desde cedo me apercebi também que ser do FC Porto era diferente. Era diferente sobretudo porque representava uma afronta ao poder da capital. O FC Porto, "clube de bairro", "clube regional", tinha o desplante de querer fazer frente aos dois colossos da capital. Também isso aumentava o gozo de ser portista.
Ser do FC Porto implica ser contra o poder da capital. Infelizmente, continuamos a viver num país em que a mentalidade dominante vê Portugal como "Lisboa e o resto que é só paisagem". Isso reflecte-se no futebol. A hegemonia dos clubes de Lisboa durante quase quarenta anos começou a ser ameaçada no fim dos anos 70 para ser definitivamente abalada na década de 80 por um clube do Norte, a região dos parolos.
E é aí que reside a grandeza do nosso clube: o FC Porto não se limita a lutar contra os seus adversários, semana a semana, de modo a garantir os pontos que lhe vão dar os títulos. O FC Porto luta contra Lisboa. Contra SLB e contra SCP que, juntos, tentam denegrir a qualidade e os méritos de um clube que, com muito menos meios, com muito menos ajudas, com muito menos apoiantes, conseguiu chegar tão ou mais longe do que os grandes clubes da capital.
O FC Porto e o SCP não se unem para ganhar ao Benfas. O Benfas e o FCP não se unem para ganhar ao SCP. Mas o Benfas e o SCP unem-se para ganhar ao FC Porto. É essa a nossa grandeza. Mesmo tendo adversários com mais apoiantes do que nós, que representam uma cidade que continua a ser o símbolo de um poder centralizado e centralizador, continuamos a chegar mais além.
É com orgulho que, ao ouvir os comentários dos anti-portistas que continuam a referir-se ao nosso clube como um "clube regional", penso naquilo que já conseguimos conquistar. Nos títulos, no respeito internacional, na fama conquistada nos quatro cantos do mundo. Se conseguimos conquistar tudo isto sendo um clube regional, imaginem o que conseguiríamos conquistar com "6 milhões de adeptos"?
Por tudo isto, ser do FC Porto é ser apaixonado. É continuar a vibrar e a gritar após cada golo. É lutar sabendo que apenas podemos contar connosco para ganhar. É sofrer e morder a língua quando menosprezam os nossos títulos e a justiça com que os conquistamos. É sentir arrepios na pele e as lágrimas nos olhos de cada vez que se vê na TV ou se ouve no rádio os golos do Madjer, do Juary, do Derlei, do Alenitchev, do Carlos Alberto e do Deco.
É percorrer mais de trezentos quilómetros em direcção ao Porto para ver a final de Gelsenkirchen e depois esperar até à manhã seguinte no estádio do Dragão (sem nunca pregar olho) pelos heróis e celebrar aquele que continua a ser o dia mais feliz da minha vida.
É beijar o emblema e bater no peito de cada vez que marcamos um golo. É amar um clube e vibrar com as suas vitórias (e não com as derrotas dos outros).
Por tudo isto e por muito mais, ser do FC Porto é ser diferente.

E tudo começou em Viena...

P.S. Este fim de semana não foi nada positivo para as modalidades amadoras do nosso clube. Perdemos a final de basquetebol para a Ovarense (que foi, sem dúvida, a melhor equipa este ano) e perdemos a hipótese de fazer a dobradinha em hóquei, ao sermos derrotados por uma equipa da 2ª divisão! No entanto, estas derrotas não devem abalar o excelente trabalho efectuado pelas equipas de Alberto Babo e de Franklim Pais. Para o ano haverá mais e, certamente, estaremos lá para lutar pela vitória até ao fim.
Menção final para Pedro Gil e Reinaldo Garcia, dois grandes hoquistas que se despediram ontem do nosso clube. Farão, com certeza, muita falta e só espero que a equipa consiga substituí-los.

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